sábado, 30 de maio de 2020

CRÓNICA - SER MULHER NAS FESTAS DA VILA DAS LAJES 2016

As festas da Vila das Lajes 2016 foram magnânimas organizadas por oito mulheres aludindo o tema “Ser Mulher – Essência da Vida, Equilíbrio do Mundo!”.
O programa foi bastante apelativo, tentando agradar a todas as pessoas dos diversos patamares etários, em particular a mulher entretendo com cortejos, desfiles, dj, procissão, concertos com homens tocando e cantando, excursões, touradas, cantoria, fado em tributo das mulheres, comédia com homens.
O trabalho foi dividido e realizado por mulheres e homens; os carros alegóricos foram minuciosos e destacaram a mulher, principalmente as rainhas das festas que foram homenageadas no último carro com a presença de fotografias.
As coreografias foram feitas com a ajuda de Ana Eduarda Rosa e Eduardo Azevedo, como acontece normalmente todos os anos de festa.
O cortejo de abertura na noite inicial de dia 1 de Outubro e o Bodo de Leite a 4 de Outubro, assim como o desfile final de Chefes de Protocolo e Rainhas das festas da Ilha Terceira 2016, foram os pontos mais altos e engalanados desta festa anual que fechou as festividades da época veronil.
A marcha popular foi uma homenagem às mulheres, relevando as cantoras e dançarinas, algumas acompanhadas dos maridos, outros dos namorados e outras de amigos ou/e parentes.
Todas as mulheres são um brilho e engrandecem a Vila das Lajes e a Ilha Terceira destes Açores. Existem aquelas que participam nas festividades e que ganham mais fama pelas suas ocupações e roupas magníficas; existem aquelas mulheres que organizam as festas tradicionais da vila; existem aquelas mulheres que conhecem a essência da vida; existem aquelas mulheres que sabem o equilíbrio da vida; existem aquelas mulheres que são famosas; existem aquelas mulheres que assistem às festas e aplaudem; existem aquelas mulheres que pertencem a grupos sociais; existem aquelas mulheres que são solteiras e existem aquelas mulheres que são casadas.
O cortejo do Bodo de Leite foi tradicional e moderno, com a presença do passado e do presente, realçando muito as mulheres em diversos aspetos, enquanto cavaleiras, crianças, meninas, filhas, mães, solteiras, casadas, empregadas de festa, empregadas de casa, trabalhadoras, caseiras, antigas, artesãs, domésticas, adolescentes, adultas, familiares, tecedeiras, costureiras, festeiras, modernas, atrizes, espetadoras, comerciantes, vendedoras, compradoras, modelos, princesas, duquesas, santas, deusas, maquilhadoras, pintoras, professoras, médicas, artistas, cozinheiras, polícias, mordomas, fadistas, dançarinas, camareiras, bailarinas, coreógrafas, floristas, damas e cavalheiros, comprometidas com seus acompanhantes, grávidas e raínhas. Por fim quero acrescentar que as fotógrafas e escritoras também devem ser realçadas porque ajudam a recordar as festas.

CRÓNICA - JUVENTUDE DESPORTIVA LAJENSE

O Clube e a Equipa da Juventude Desportiva Lajense foram fundados por dezanove membros a 18 de Maio de 1958. Esses diretores não foram jogadores profissionais.
A equipa começou com doze jovens, como os atuais iniciados, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos. Com o passar dos anos a equipa evoluiu e aumentou o número de jogadores para 18 membros na década de 80. Com os anos a equipa voltou a diminuir o seu número de jogadores ao passar a haver escalões.
A Juventude Desportiva Lajense passou a ter vários escalões ainda no século XX. Os escalões atuais são: infantis, juniores, juvenis, iniciados, seniores, veteranos e femininas.
O primeiro escalão foi intitulado de Iniciados (dos 13 aos 18 anos), o segundo escalão - juvenis (dos 12 aos 24 anos), o terceiro escalão - infantis (dos 4 aos 10 anos), o quarto escalão - femininas com duas equipas (dos 10 aos 20 anos), o quinto escalão - juniores (dos 10 aos 13 anos), o sexto escalão - seniores (dos 30 aos 40 anos) e o sétimo escalão - veteranos (dos 40 aos 60 anos). Também existem duas equipas mistas de infantis e de juvenis. As equipas têm poucos membros, variam consoante os escalões, mas já aconteceu uma equipa contar com a presença de vinte jogadores. No próximo campeonato, em 2016/2017, haverão mais equipas, entraram mais juniores, juvenis, iniciados e femininas, farão o total de quinze.
Aconteceram muitas mudanças e inovações ao longo do tempo. Alguns jogadores mudaram a sua posição em campo, se tornaram diretores, treinadores e adeptos; além disso vieram jogadores de quase todas as freguesias do concelho para se incluírem nos escalões na específica idade.
O Clube da Juventude Desportiva Lajense inaugurou em Dezembro de 2005 um Pavilhão Recreativo para aulas de Dança e foi iniciada a Academia de Dança da J.D.L. no segundo andar do Clube da J.D.L. com três escalões (femininas, infantis e juvenis), as primeiras são singulares e as restantes com pares, o limite de idades varia entre os 4 e os 20 anos.
As equipas mistas no futebol iniciaram-se com os escalões infantis e juvenis em Setembro de 2009 e em Setembro de 2011 apareceu uma equipa feminina. A partir de Setembro de 2013 foram começadas as equipas dos juniores, seniores e veteranos.
A J.D.L. progride com os anos. Participam nos jogos mais de 200 atletas. Nesta década tem sido organizado um evento diferenciado todos os meses para angariar fundos para a J.D.L. ou para a Junta de Freguesia.
A Juventude Desportiva Lajense já arrecadou mais de 100 taças, umas dezenas de troféus, poucas bandeiras e algumas medalhas. Não sabem a quantidade certa e não querem informar. Nesta década já venceram cerca de vinte vezes. Acham muito fácil ganhar porque têm vários escalões. A equipa sempre teve uma boa posição na tabela local e regional.
O presidente, o vice-presidente e os outros membros da direção atual e passada já foram jogadores e venceram. Apareceram muitos campeões ao longo das épocas, em diversas idades e escalões, como é o caso de os iniciados várias vezes, os infantis duas vezes tal como os juniores, os seniores quatro vezes e os juvenis uma vez. Os veteranos nunca participam no campeonato.
As equipas da Juventude Desportiva Lajense são regionais, jogam em campos da ilha Terceira e de outras ilhas dos Açores, mas os jogos não são transmitidos para a televisão a não ser em gravações amadoras ou através do canal da MEO da Junta de Freguesia da Vila das Lajes com o número 308021. Os resumos finais da taça são apresentados na tv e a J.D.L. conta com uma página no facebook atualizada. As equipas já apareceram com a Vitec em entrevistas e excertos de jogos.
O Clube J.D.L. costuma receber pessoal para assistir aos jogos de futebol portugueses e internacionais, todos os canais da MEO ligados ao futebol estão disponíveis.
Em Maio de 2016 foram celebrados os 58 anos da Juventude Desportiva Lajense, comemoraram-se com uma Gala no Auditório do Ramo Grande da Praia da Vitória, a 22 de Maio, foram entregues várias vezes os prémios seguintes: Treinador, Formação, Diretor e Adepto.

CRÓNICA - 5 ANOS DE PISCINA, BAR E PASSEIO MARÍTIMO DA CALDEIRA

Na Vila das Lajes, no final da Rua da Caldeira, próximo da zona costeira, onde muitos pescadores e mergulhadores frequentam e algumas moradoras ainda se banham no mar, existe um Passeio Marítimo no lado direito, que foi iniciado suas obras em 2010, levando mais de um ano para ser concluído, assim como o embelezamento do lado esquerdo, abaixo da pequena zona de lazer, com a ansiada piscina, balneários, bar, parque de estacionamento e rotunda.
Estes novos espaços foram inaugurados a 28 de Agosto de 2011 e atraíram muita gente de imediato. Esse evento contou com a participação de inúmeras entidades eclesiásticas, políticas, civis e público em geral.
Junto à placa da inauguração existe uma vedação com duas piscinas: uma grande para adultos e outra pequena para crianças, contém água salgada e doce, é conservada e filtrada, mudada duas vezes por semana inicialmente, mas depois tratada todos dias atualmente. Estão lá dois vigilantes. A piscina está aberta apenas na época de verão a partir das 10h da manhã até às 18h (de Junho a 30 de Setembro), os seus utilizadores têm de tomar duche antes de entrar nela e em 2015 algumas pessoas pagaram um euro. O local é vedado e além da piscina existem balneários e wcs, o Bar com doces, salgados, refeições e gelados.
Inicialmente era outra gerência, mas em 2013 vieram outras pessoas para continuarem esse trabalho, o bar evoluiu na sua ementa, apesar do habitual, é possível almoçar e jantar pratos maiores como em um restaurante. Além dessa evolução houve cantoria no Bar no final de Julho de 2014. Os meses com maior aderência de pessoal são sempre os de Julho e de Agosto.
Após Setembro a piscina fecha, porém o bar continuará aberto aos fins-de-semana e dias feriados, algumas vezes.
O Passeio Marítimo é excelente para caminhadas e corridas ao fim da tarde em qualquer época do ano, o ar é tão puro e a paisagem tão bonita que vem imensa gente, principalmente, na altura da primavera e do verão, para passear ou exercitar-se.
Nos últimos cinco anos muitas mais pessoas frequentaram esta rua e pararam no final da mesma, estas construções encaminharam mais população e ocorreu progresso na Rua da Caldeira da Vila das Lajes.

Autora: Lénia Aguiar.
Tenho todos os direitos de autora sobre este texto.
AGOSTO 2016

CRÓNICA - O DIVINO ESPÍRITO

Quando termina o Domingo de Páscoa começa logo a azáfama para quem abrigou o Divino Espírito Santo em sua casa. Ele é o símbolo da paz e está representado de várias formas durante o ano inteiro: água benta, óleo, cruz, nuvem e pomba branca, porém nesta altura pascal é mais revelado como pomba e coroa de estanho de cor acinzentada.
Foi a Rainha Santa Isabel, na Vila de Alenquer, em Portugal Continental, que iniciou o culto ao Divino Espírito Santo para ajudar os mais necessitados com cozido à portuguesa e sopa de pão. Porém, tal tradição veio para o arquipélago açoreano com os povoadores. Começaram as Coroações devido à ocorrência de catástrofes vulcânicas.
Em décadas passadas o meu avô paterno apresentava um carro de bois no adro da igreja para a família passar o domingo.
Já participei em muitas Coroações do Divino Espírito Santo em várias freguesias da ilha e já levei diversos utensílios até à igreja. O meu pai costuma ser criador de bezerros para Funções/Coroações e eu já ajudei a tratar de alguns deles.
É de lamentar fazerem cada vez menos as típicas bezerradas como antigamente, está-se a deixar de fazer isso, a matança agora é no matadouro, mas muita gente ainda enfeita os vitelos junto de casa e realizam a folia e um jantar com muitos convidados. Porém vai-se evitando por causa do cansaço e azáfama por parte dos pagadores de promessas, alguns simplesmente dão o jantar aos criadores dos bezerros e sua família, dispensando a folia.
Ao chegar o Domingo de Pentecostes acontece habitualmente o primeiro Bodo no adro da igreja após a missa juntamente com a actuação da filarmónica é distribuído pão e vinho (e, por vezes, massa-sovada) aos presentes. Podem-se ver carros de toldos com inúmeras iguarias, onde as pessoas passam a tarde a petiscar, na algazarra e os mordomos fazem arrematações/leilões no edifício do Império do Divino Espírito Santo. No Domingo da Santíssima Trindade dá-se o mesmo acontecimento. É uma festa típica terceirense que eu estou habituada e que nunca falto, já estive no império a arranjar a mesa para os pagadores de promessas anuais e também já estive na dispensa e em carro de toldo.
A freguesia fulcral para tal tradição é a da Vila Nova, pertencente à zona do Ramo Grande, concelho da Praia da Vitória, onde se encontram dezenas de carros de toldo, ao que consta já chegaram aos cinquenta, pois o padroeiro é o Espírito Santo. Na Vila das Lajes também é habitual verem-se uns dez carrinhos de bois, é de igual modo uma freguesia forte para essa tradição. Na Agualva também aparecem carros de toldo, cerca de uma dezena. Em S. Brás e nas Fontinhas vêem-se menos carros de madeira, apenas um ou três. O Ramo Grande apresenta maior adesão de carros antigos (sem os bois) enfeitados, mas no Concelho de Angra do Heroísmo vêem-se alguns carros de toldo, principalmente na Vila de S. Sebastião.
Costumo ir correr os bodos e já petisquei em vários locais. Cada freguesia é diferente, embora pareça igual. É muito agradável passar a tarde de domingo no bodo seja com a coroação ou com o mordomo ou apenas para honrar a tradição. O ambiente é de festa e eu sou terceirense e gosto. Adoro os petiscos, seja em carro de bois, dispensa ou império. O que me falta fazer é ter o privilégio de fazer arrematações nos dois sentidos.

CRÓNICA - JARDIM E MUSEU DE PEDRA E CANTARIA

Jardim-Museu de Pedra e Cantaria da Rua da Caldeira - Lajes

O Jardim-Museu da Família Gomes iniciou-se em 1997 com a construção de um fontanário em cimento, feito à mão pelo seu proprietário, o Sr. José Eduardo Gomes, pedreiro de profissão, nascido em Dezembro de 1950.
No jardim encontram-se plantas e flores diversas, além disso apresenta antiguidades típicas da região: tachos, chaleiras, cantarias, pias, telhas antigas e modernas. Foram feitos à mão três fontanários, tijelas, duas patas, duas águias e três galinhas de cimento. Para que as peças sejam feitas na perfeição são usadas formas de madeira. Também ornamentam o museu pedras de tamanhos, cores e texturas diferentes, trazidas da beira-mar, “são fenómenos da natureza”, como dizem.
Toda a família colabora na concepção do museu, sua esposa Dídia e seus dois filhos José e Miguel e filha Patrícia.
O proprietário já construiu diversos objectos em cantaria e cimento para algumas pessoas amigas, contudo não costuma fazer negócio disso.

Norberto Meneses, Artesão Lajense de Cantaria e Madeira

Norberto Meneses (Camolas) nasceu a 7 de Novembro de 1968. Mora na Rua do Picão e lá abriga as suas peças, ainda não tem museu aberto ao público, mas terá brevemente, porém será fora da sua habitação e da sua localidade.
Na década passada iniciou-se na arte da escultura em cantaria e madeira, mas a sua profissão é carpinteiro e construtor civil.
Trabalha várias horas por dia, mas não tem dia marcado, apenas quando se sente inspirado, desenha alguns trabalhos, mas também faz com ajuda de fotos, sente-se capaz de esculpir qualquer objecto.
Molda a cantaria e a madeira com muita delicadeza ajudado por uma máquina, duram várias semanas ou meses para as peças ficarem perfeitas.
Já produziu mobílias e veículos em madeira, pintados de verniz; em cantaria e madeira construiu um moinho, uma casa antiga das Bugias e a Dispensa do Império do Espírito Santo das Lajes, estes objectos são bastante semelhantes aos reais; apenas em cantaria foram esculpidos uma lareira, uma ponte e um chafariz. Já construiu ferramentas em madeira e aço. A próxima grande obra é a construção da Igreja Paroquial das Lajes.
Elaborou um trabalho para uma pessoa e vendeu, mas não é fácil a compra de tais peças em cantaria porque são de alto custo.
Iniciou-se nas exposições das suas obras na festa de celebração dos 11 anos da Vila das Lajes em meados de Junho de 2013 no rés-do-chão do Museu de Carnaval. Depois apareceu na Feira do Artesanato da Festa da Praia da Vitória em início de Agosto do mesmo ano e em 2014 surgiu na Casa do Povo da sua vila de 4 a 6 de Abril como artesão de cantaria e madeira. Estão agendadas novas exposições para o verão.

CRÓNICA - ANTIGAS CIVILIZAÇÕES NA FESTA DA VILA DAS LAJES

No dia 5 de Outubro de 2013 foi a vez de ver desfilar desde a Rua S. Miguel Arcanjo até ao Largo da Igreja Paroquial de S. Miguel Arcanjo o Cortejo De Abertura das Festas 2013 abordando três das maiores civilizações do mundo (Romana, Chinesa e Grega). No dia 8 de Outubro aconteceu o desfile do Cortejo do Bodo de Leite da minha querida Vila das Lajes.
O Cortejo de Bodo de Leite continha cinco carros alegóricos. Falei com um dos membros da comissão das festas Mathew Mendes e efectuei pesquisas sobre o tema As Antigas Civilizações, elaborando esta crónica baseada nas Civilizações do cortejo.
O primeiro carro alegórico representava a Civilização Egípcia que surgira à três mil anos antes de Cristo no norte de África junto ao rio Nilo e ao Mar mediterrâneo. Havia na parte superior do carro alegórico duas esfinges, a imperatriz, dois soldados e a figura de uma pirâmide, na parte lateral estavam os hieróglifos (escrita egípcia e maia), perfis do faroó e do seu povo, na parte detrás destacava-se a figura principal da hierarquia egípcia com roupa colorida com os braços abertos como se fossem duas asas abertas cheias de penas.
Seguidamente a Civilização Inca surge, é anterior a Cristo quatro milénios, contribuíram para a evolução das técnicas de construção da pedra, de comunicação, como por exemplo os primeiros contactos ancestrais, das danças e da música. Eram realçadas as tribos e suas danças, o imperador ou faroó no seu trono, as antas e uma serpente.
O terceiro carro representava a Civilização Romana, continha as espadas, os escudos, os soldados e o Coliseu de Roma onde aconteciam as típicas lutas. Esta civilização apareceu na península itálica oito séculos antes de Jesus Cristo. Contribuiu para a evolução do governo europeu, da arquitectura, da tecnologia, do comércio, da gastronomia, da agricultura, da literatura e da guerra.
A Civilização Chinesa compunha o quarto carro, em relevo se encontravam as bailarinas japonesas, as construções em pedra e metal, e o Rio Nilo pintado debaixo de um viaduto. Esta Civilização foi das primeiras a aparecer no mundo e passou pelas Idades do Bronze e do Ferro.
Em último lugar, a Civilização Grega, a primeira, a que surgiu no Paleolítico. A abrir o quadro grego caminhavam seis deusas com bandejas de frutas e afrodisíacos; no carro, atrás da rainha, estavam as Ruínas do Templo de Diana, edifício destaque da Grécia. As construções em pedra, cerâmica e metal; o teatro, a poesia, a música, o desporto (Jogos Olímpicos) e os heróis gregos eram destacados com fotos em redor do carro alegórico.
Após o término do cortejo ainda havia o desejo de ver mais carros com as restantes civilizações do mundo. É de louvar o trabalho que tiveram para compor tais quadros, iniciaram o projecto um pouco antes das festas do concelho e saíram-se muito bem. Parabéns a todos.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

CONTO - AMORES EM SEGREDO

Projeto
PAIXÕES CLANDESTINAS
OUTRAS PAIXÕES

Amores em segredo

Quando Nívea chegou a casa, o filho já lá estava a jantar, a cozinheira Antónia tinha-lho preparado.
– Boa tarde, mãe. Vem jantar comigo. – Aclamou Gastão.
– Já vou, mas terá de ser depressa, pois tenho ainda que preparar as aulas de amanhã. – Confessou sentando-se à mesa.
Comeram e depois cada um foi para o seu quarto.
Nívea não podia usar o escritório porque o marido estava lá a escrever os textos para o jornal do dia seguinte.
Normalmente vinha tarde para a cama e já não estavam juntos há muitos meses.
Na manhã seguinte os três voltaram aos seus trabalhos. Nívea foi lecionar Psicologia para a faculdade, Gastão foi para a aula de alemão e Arnaldo para a redação. Ficavam relativamente perto uns dos outros, embora a mãe e o filho ficassem mais perto por estarem ambos na universidade de Coimbra.
Na hora do almoço, Gastão foi almoçar, como sempre, com Cesário, Eliana e Camila. Cesário decidiu declarar se a Camila mesmo na presença dos outros. Ela ficou um pouco espantada com a coragem dele à frente dos restantes e corou sem palavras.
– Dou-te tempo para te mentalizares na minha proposta e te preparares para a tua nova vida… comigo. – Proferiu sorrindo, colocando-lhe uma mão em cima da dela.
Então ela decidiu que iam tentar. Os outros riram.
Nesse instante Cesário olhou para Gastão e incentivou- o:
– Devias fazer o mesmo. A Eliana também me parece ansiosa por um beijo teu.
– Eu! ? Não estou, não. O que eu quero é passar o ano e tirar o curso para um dia ser tradutora.
– Eu também penso assim. – Concordou Gastão. – Somente quero estudar para um dia ser um bom docente de alemão e inglês.
– Tu e ela estão mesmo bem um para o outro. Muito envergonhadinhos.
– Sou quase como tu. Demoraste cinco anos para te declarares. – Proferiu sorrindo, acrescentando de seguida:
– Eu bem sei que gostas dela desde o primeiro ano.
– Pois, – acrescentou Eliana – estás sempre a tentar engatar as das outras turmas… admiro me tu a querê- la e ela querer-te.
– Estás interessada? – Perguntou, espantado.
– Não.
– Eu sou mais corajoso do que ele. O Gastão demorará décadas para se declarar. – E sorriu olhando-o.
– Somente estou a mangar contigo. Nada de stress.
– Para de gozar com ele. – Intrometeu- se Camila. – Se queres namorar comigo não poderás dizer piadas parvas e rebaixar os outros. Porta-te bem. Eles não merecem.
– Ó, Camila fica sempre do meu lado, gosta de tudo aquilo que eu fizer.
No sábado seguinte eles saíram juntos os quatro para irem a um bar, mas à determinada altura o casalinho ausentou-se para um sítio mais calmo para curtir.
Estavam a gostar muito de estar juntos que pensaram em oficializar o namoro brevemente com a família. Voltaram a casa de táxi.
No domingo à tarde, o irmão de Camila, Cláudio, fora à casa de Gastão pedir-lhe um jogo de computador para desanuviar do estudo.
– Tu não tens nada para estudar? – Inquiriu Gastão, admirado.
– Estudo depois. Precisava da ajuda da tua mãe para estudar Psicologia. Ela já me ajudou e eu subi a nota, sem ela não consigo estudar com pachorra.
– Então vai dizer a ela. Minha mãe está no escritório porque o meu pai hoje vai chegar mais tarde.
Ele lembrou-se como era para lá chegar, agradeceu e despediu-se do amigo. Desceu as escadas e bateu na porta do escritório. Nívea sorriu ao vê-lo. Deixou o entrar e perguntou o que queria.
– Queria que me explicasse umas matérias em que tenho dúvidas. – Declarou enquanto fechava a porta atrás de si.
Ela explicou-lhe o que ele não compreendia. Cláudio agradeceu e perguntou quanto custava, mas
ela não quis cobrar porque era um amigo do filho e não era muito.
O jovem gostou do que ouvira, assim como do sorriso dela. Contudo, apenas se levantou da cadeira e baixou a cabeça saindo. Nívea achou-o estranho, mas não falou no assunto.

O estágio da turma de Línguas estava para breve e Gastão sentia-se mais próximo de Eliana. A futura tradutora andava a conquistar corações e o amigo sentia-se ameaçado, pois ela era tão reservada para ele que Gastão ficava com ciúmes, mesmo sem ela dar trela a quem se aproximava mais para conversar ou para pedir apontamentos.
Um dia, a sós, Gastão manifestou os seus sentimentos:
– Eu queria que os dias de faculdade não acabassem. Bem, estou a mentir. – Declarou embaraçado. – Eu queria era que os momentos que nós temos juntos não terminassem. E tu?
– Eu também gosto muito da tua companhia. Nunca te esqueças que moramos na mesma cidade e que ficaremos para sempre amigos.
– Parecia que me conhecias tão bem e afinal ainda não percebeste o que queria dizer.
– Percebi. Deixa essa poeira baixar. Os ânimos estão exaltados por causa do final do curso, mas não significa mais nada.
– Queres enganar a ti própria? Tens vergonha de mim? Crescemos praticamente juntos, sabes quais as minhas intenções.
– Pois, é por isso. Não se confunde amizade com amor.
– Não queres arriscar um beijo? Ninguém está a ver. – E olhou à volta, fazendo a olhar também.
– Agora não. Não estou preparada para isso, não sei bem por quê. Deve ser por causa da reviravolta universitária.
– Não insisto. Porém, sabes que devíamos tentar.
– Agora só quero acabar este estágio e começar a trabalhar. Quando isso acontecer logo se vê. Até lá, falamos normalmente.
– Aceito. – Retorquiu ele.
Cláudio já arranjara uma namorada, Bianca, estudante de enfermagem, como ele. Curtira com ela, mas achava que não gostava o suficiente. Ela não parecia muito interessada, depois só queria estudar sozinha e falava pouco na curtição.
– Assim não tem graça. Gostava de estudar contigo.
– Gostava mais quando eras somente amigo.
– Ok, afasto-me. Eu também estudo bem sozinho.
Cláudio ficou triste, não conseguira ficar mais de um mês com a rapariga e gostava dela a sério. Pensava noutras colegas, mas elas não mostravam muito interesse, queria apenas estudar e tirar altas notas. Ele já estava farto daquela vida de estudante e ainda tinha mais um ano. As professoras achavam-no um menino e não lhe davam muita trela. Tinha que arranjar alguém de
fora. Mas quem?

Nas férias de Verão, Nívea foi para a praia com o filho e duas amigas, a Eduarda levou os filhos Cláudio e Camila e a Gertrudes, a filha Eliana.
Cláudio, Camila e Gastão prepararam-se logo para jogar futebol na areia junto ao Cesário, que lá estava.
Eliana ficou deitada numa toalha a ler um livro de novela de época, junto de sua mãe Gertrudes e das outras mulheres.
A bola ia algumas vezes para perto das senhoras que eram muito apreciadas pelos homens nos seus fatos de banho ou biquínis! Quase todos os dias de verão foram à praia juntos.

As aulas universitárias voltaram e com elas novos estudos, novas alegrias e tristezas, novos romances, sonhos, planos, amigos e novas noitadas. Era o ano do estágio de Cláudio. Correu bem, no geral, tentou concentrar-se mais e melhores notas positivas apareceram, terminando o curso com média de quinze valores.
Gastão e Eliana já estavam a namorar e a trabalhar.
Cesário e Camila também já tinham um emprego e o casamento marcado. Nívea dava as suas aulas de
Psicologia como sempre.
A meio do ano letivo começou a desconfiar que o marido andava a enganá-la porque ele saía da redação e não voltava direto para casa. A primeira vez ficou muito preocupada se lhe tinha acontecido alguma coisa. Ele nunca fazia isso! Sempre que tinha algum compromisso importante avisava-a antes. Porém, Arnaldo estava estranho, já não falava muito com ela, já não era
romântico, dormiam apenas e não havia carinhos.
Um dia ligou para a redação a perguntar se ele vinha já a casa. Ele disse que tinha um compromisso. Ela não gostou do seu tom de voz e resolveu ir até ao seu trabalho. Ficou no carro à espera de ele sair e seguiu-o.
Onde iria ele às dez horas da noite!
Ainda em Coimbra, ele estacionara na berma da estrada, perto dum restaurante novo. Entrou no edifício e a esposa foi atrás pouco depois. Viu-o lá sentado à mesa com uma loura! Sentou-se noutra mesa afastada e pediu um café quando o garçom a abordou. Olhou-os de soslaio e verificou que já estavam muito íntimos. Ficou triste, quase chorou.
“Mas eu estou longe, pode não ser o que parece”, pensou.
Então resolveu pedir ao empregado de mesa, dando-lhe uma gorjeta:
– Poderia fazer-me o favor de perguntar àquele casal o que são um ao outro?
– Com certeza, minha senhora.
Ele foi lá e quando voltou disse a Nívea:
– Eles são casados. O que deseja mais?
– Nada. Obrigada. – E saiu com as lágrimas nos olhos.
Voltou para casa e ligou logo para Gertrudes, que era advogada, para tratar do divórcio.
– Tens a certeza de que é isso que queres?
– Claro. Não suporto traições.
– Devias falar com ele primeiro. O Arnaldo precisa concordar. Se for amigável é mais fácil, embora ainda demore algum tempo.
Na manhã seguinte, na cozinha, ela confrontou o marido sobre uma amante, mentindo:
– Já sei o teu segredo. Ela ligou para mim a contar tudo o que há entre vocês.
– Não sei do que estás a falar. – Balbuciou denteando um pedaço de pão.
– Já sei que tens uma amante há algum tempo e que há promessas de amor futuro.
– Não é possível.
– Quero o divórcio. – Declarou com prontidão, colocando as mãos em cima da mesa.
– Por acaso tu tens algum e queres que eu também tenha?
– Não mudes a conversa. – Protestou, intimando – Eu sei mais do que tu pensas.
– Estou tão bem aqui contigo e com o Gastão. – Disse ele, levantando-se da mesa enquanto bebia o café, resmungando. – Mas eu quero a minha liberdade.
– Assim não. Fica com ela e eu vou-me embora daqui.
– Não faças isso. – E olhou a, depois de abandonar a chávena no lava-louças. – Para que gastar dinheiro com advogados? Estamos bem assim…
– Nós já não temos uma relação, parecemos uns estranhos, nem falamos, apenas trabalho e mais trabalho.
Ele pegou -lhe nas mãos e perguntou:
– Que queres que façamos para inovar o nosso relacionamento?
– Nada. – E baixou os olhos afastando-se. – Eu sei que tu estiveste com uma mulher num restaurante e tiveste a lata de a apresentar como tua esposa. Se queres esse título para ela então deixa-me, vai com ela, não me enganes. – E começou a chorar sentando-se na cadeira da
cozinha.
– Andaste a seguir -me? Já não confias em mim? – Gritou desiludido. – Detesto que me vigiem. Parece que já não és a mesma. Agora queres controlar-me todos os passos!
– Não é isso. Somente quero mais atenção.
– Eu tenho o trabalho. Foi com uma amiga da redação que eu jantei.
– Pois, é sempre isso que dizes: amigas e colegas de trabalho, mas afinal tens uma amante.
– Então queres mesmo acabar?
– Sim. Já falei com a Gertrudes e ela vai tratar de tudo, falta o teu consentimento.
– Está bem. Se é assim que queres, assim será.
– Porque não admites que tens outra?
– Ainda me custa acreditar que isso me tenha acontecido. Mas me apaixonei mesmo por uma colega de
trabalho. Ela chegou lá há pouco tempo e cativou-me.
– Podes calar-te. Vai-te embora. – Ordenou exaltada sem o olhar.
– Eu ainda não tive sexo com ela. – Confessou.
– Ai não! Por quê?
– Porque ainda não chegamos a essa parte. Não tenho amante, no fundo.
– Então por que disseste que era a tua mulher? – Confrontou-o.
– Porque estou a gostar mais dela do que de ti. Pensei, de fato, em te trocar, mas ainda não tinha bem a certeza. Estás a ajudar -me a decidir. – E sorriu andando para a sala.
– Então isso quer dizer que vamo-nos divorciar? – Bradou.
– Sim e vou tentar ser mais feliz com ela. – Proclamou aproximando-se da porta de saída,
despedindo-se.
Ela ficou triste, mas desta vez não chorou, pensou em arranjar também alguém, mas será que queria outra pessoa para a fazer sofrer?

No outro dia ela voltou para casa dos seus pais e Gastão ficou com o pai naquela casa em que o viu nascer. Quando foi para a praia contou também às amigas o que lhe sucedera. Eduarda ficou espantada:
– Pareciam um casal tão amigo!
– Mas ele já se cansou de mim. – Desabafou, voltando- se depois para a Gertrudes, informando: – Vê se tratas do divórcio depressa que quero que esse assunto acabe.
– Vou tentar dar prioridade ao teu processo, mas tenho outros mais antigos.
– Mas eu sou a tua amiga, tenho prioridade. Eu pago bem.
– Sim. Vou dar prioridade ao teu.
Nívea gostava de ver os rapazes a jogar futebol. O Cláudio jogava melhor que o filho, parecia mesmo um jogador profissional. Mas o Gastão era melhor que o da outra em muitas matérias da escola. Ela estava orgulhosa do filho por lhe seguir as pisadas, apesar de não lecionar
a sua disciplina, era professor de inglês e alemão.
Uma tarde de verão, na bolsa de praia dela, apareceu um bilhete em letras garrafais:

ESTOU APAIXONADO E ANDO À PROCURA DE
PARCEIRA.
GOSTARIA DE A VER A SÓS HOJE ÀS 21H NESTA
PRAIA.
UM ADMIRADOR SECRETO

Ela viu o bilhete ao chegar a casa e remexer na mala, sorriu ao lê -lo. Adorou a ideia de ter um admirador secreto e depois de um banho e do jantar, não hesitou em ir, merecia alguém. Disse aos pais, que viam televisão:
– Vou dar uma volta para espairecer. Não se preocupem que eu volto antes da meia- noite. – E sorriu.
– Sim, filha. – Responderam ambos sorridentes.
Ela foi de carro até ao local combinado. Não estava frio e ainda não escurecera totalmente e havia candeeiros públicos por perto. Ao chegar lá, antes de chegar à areia, ao lado de uns bancos, reparou que havia um homem de pé, voltado de costas, com um chapéu preto, uma t-shirt
branca e uns calções de ganga preta a combinar com os chinelos. Pareceu-lhe familiar aquela estatura. Ele voltou-se ao sentir os passos dela e achegou-se mais. Também tinha óculos tal como ela.
– Quem és tu? – Perguntou corajosamente.
Ele acercou-se e estendeu o braço para lhe dar a rosa, informando:
– O seu admirador secreto. Se não fosse assim não tinha graça. – Acrescentou, entregando-lhe a flor.
Ela ficou surpreendidíssima quando pegou na flor e se apercebeu de quem se tratava. Ele olhou a de cima a baixo, averiguando a sua saia xadrez e a sua blusa branca, lisonjeando:
– Está muito bonita.
Ela agradeceu um pouco embaraçada, confessando depois:
– Nunca pensei que fosses tu.
– Não tive coragem de lho dizer pessoalmente, mas gostaria de me envolver consigo.
– Estás louco! ?
– Já ando há algum tempo a gostar de si. Já tive com outras, mas depois penso sempre em si.
– Eu tenho a idade da tua mãe e sou amiga dela, sou mãe de um rapaz da tua idade que é teu amigo e da tua irmã, nós… – e movimentou a mão em desacordo – não podemos, não faz sentido. – E, dito isso, voltou-se.
– Espere. Não saia assim. – Ordenou suavemente agarrando-lhe o pulso direito. – É por ser assim tão chegada que me fui apaixonando.
Quando ela o olhou ele retirou o chapéu e pôs na cabeça dela para brincar e fazê-la rir. O que, de fato, aconteceu. E rapidamente tirou do bolso dos calções uma máquina digital e tirou-lhe uma foto.
– Faça uma pose.
Como ninguém estava a ver ela deixou-se levar e colocou as mãos na cintura. Cláudio estava a gostar cada vez mais dela.
– Dê uma volta.
Ela virou-se de costas e voltou o rosto. Tiraram mais algumas fotos e a seguir ambos se dirigiram até um banco que estava perto. Ficaram lá sentados a ver as estrelas e o mar.
Nívea pensou:
“Foi bom ter vindo. Sinto- me mais jovem, mais amada.”
– Queres dizer-me alguma coisa? – Inquiriu ele.
– Fala tu.
– Que pensou do meu bilhete?
– Gostei de o receber, depois da decepção com o meu marido, era disso que estava a precisar. Somente pensei que era alguém para a minha idade.
– Você deixa-me muito excitado.
Ela baixou a cabeça sem saber o que dizer. A noite estava quente e ela não tinha frio nos braços nem nas pernas.
A seguir Cláudio propôs-lhe:
– Quer ir até a um bar comigo?
Ela encarou-o com um olhar de quem não acreditava no que estava a ouvir.
– Tu, afinal, queres mesmo um relacionamento?
– O meu bilhete foi bem claro.
– Não é adequado o nosso envolvimento.
– Bem… Mas você é divorciada.
– Mesmo assim, a diferença de idade é muita.
– Estiquei-me. – Respondeu atrapalhado. – Então falemos de qualquer coisa. Eu espero o tempo que for preciso.
– Não é questão de tempo… Tens de me esquecer.
– Não faça isso.
– Eu quero encontrar alguém, não nego, mas da minha idade.
– Gosta de que tipo de música?
Pensou em não responder e ir embora, mas depois disse:
– Não sou muito exigente, ouço qualquer coisa. Mas essencialmente pop e baladas.
– O meu favorito é pop/rock. Vamo-nos dar bem, certamente. – E sorriu aproximando-se mais.
– Não insistas.
– Diz que não pode, mas não diz que não quer.
– Porque me falas assim? Vou dizer à tua mãe. – Brincou seriamente.
– Diga, pode ser que não se zangue, já que é sua amiga.
– Nem pensar. Não quero perder a sua amizade.
– E a sessão de fotos? Não teve valor?
– Tenho de ir. – E levantou-se. – Já passam das dez.
Ele levantou-se também e foi até ela, roubando-lhe um beijo. Ela excitou-se e lembrou-se do seu marido. Há tanto tempo que não tinha um beijo e um carinho!
– Porque não me afastou?
– Não sei. – Balbuciou baixando a cabeça indo em direção ao carro.
Cláudio foi atrás dela e gritou-lhe:
– Toma o meu número de telemóvel?
Ela ignorou e abriu o carro.
– Vou-te dizer coisas que já não estás habituada a ouvir.
Olhou-o e sorrindo atirou-lhe as palavras:
– Sério! Quais? As da idade da pedra?
Ele estacou a sua caminhada até ao seu carro e riu à socapa.
– Procura alguém da tua idade. – Aconselhou entrando no carro.
– Pois, talvez ainda não saibam tais coisas. Porém, quero dizê-lo a si. – E chegou perto do carro dela.
Ela ignorou-o e arrancou com o veículo. Ele não insistiu, entrou no seu carro e abalou atrás dela. Depois teve uma ideia estapafúrdia e acelerou até cento e vinte quilómetros e
ultrapassou-a, atravessando o carro na estrada mais à frente. Ela travou assustada.
Cláudio veio até ao carro dela e Nívea não parava de rir.
– Parece que gostas mesmo muito de mim. – Deixou escapar.
– Dê-me o seu número de telemóvel ou e mail.
– Eu vou-te dar que é para ver se chego a casa, mas não esperes que te envie alguma coisa.
– Vou lutar até ao fim por si.
Trocaram os números e ele enviava-lhe quase todas as noites mensagens de bons sonhos e Nívea nunca respondia.

No início de outro ano letivo, Nívea mudara-se para um apartamento em Coimbra, dizia aos pais que não queria estar longe da universidade, mas no fundo o que ela queria era independência e esquecer que o seu casamento fracassara e que voltara para a casa de solteira. Além disso, ela esperava ocultamente que o seu admirador secreto voltasse e que fosse morar com ela.
Quando pensava em Cláudio e na cena da praia sentia-se uma adolescente. Nunca teve coragem de contar a quem tinha confiança o que se estava a passar consigo. Nem o próprio Cláudio sabia da sua mudança de sentimentos. Não conseguira apagar o número dele do telemóvel, nem as mensagens, nem o e mail, nem a sessão de fotos, da sua memória.

O novo verão na praia fora triste, não se sentia à vontade com as amigas para falar do admirador secreto. Não lhe apetecia ver os rapazes jogar. Pensou em ir nadar e lá ficar, mas não podia fazer isso, o seu filho não merecia. Então num ato brusco tirou o telemóvel e enviou uma mensagem ao admirador secreto. Será que ainda o era?! As amigas estavam deitadas na areia e nem se apercebiam do que ela fizera. Cláudio demorou para ver a sms. Ela resolveu ler um livro deitada na areia como as outras.
Já tinha chegado ao carro com o Gastão quando sentiu o sinal de mensagem, mas ignorou, embora tivesse a curiosidade à flor da pele. Quando chegou a casa deixou o filho ir ao wc primeiro e foi ver a mensagem do telemóvel.
– Nunca pensei que fosse esperar tanto tempo para se decidir a aturar-me. Encontro na praia às 21h. Bjs.
Desta vez o casal ficou sentado num banco a conversar. Pareciam dois amigos. Ela confessou:
– Eu estou arrependida, um pouco, de te ter enviado a tal mensagem, mas como estou sozinha no apartamento lembrei-me de nós o ano passado na praia.
– Não precisas dizer mais nada. – Concluiu Cláudio achegando-se para ela, beijando-a com ternura.
A conversa tomara um novo rumo, ele excitadíssimo mostrou-lhe o quanto era homem. Ela ficou envergonhada.
– Falemos de nós: então queres ficar mais tempo com os encontros na praia?
– Sim. É um local tão bonito e aconteceu-nos coisas tão românticas aqui. – E sorriu.
– Vem comigo. – Pediu erguendo-se do banco e levando-a pela mão para a areia.
– Para onde me levas? – Perguntou com um ligeiro sorriso, entusiasmada com a ideia de estar com ele na praia.
– Que tal o jogo do apanha na praia? – Propôs.
– Já fizeste isso com alguém?
– Sim. Mas contigo será especial. – E abraçou-a, antes de fugir para ela o apanhar.
– Não corras tanto, senão não consigo.
Ele parou e ela afastou-se, dando uns passos atrás, afastando-se para um lado e para o outro sorridente.
– Surpreendes-me! – Exclamou sem a apanhar.
Ela gostou da brincadeira, mas deixou-se apanhar. Parecia cena tirada de novela! Com o marido nunca houvera semelhante coisa. Depois desse jogo ambos pensaram em dar um mergulho.
– É pena somente virmos para aqui de noite. – Lamentou ele.
Ela concordou.
– Gostaria de nadar contigo. E se nos aventurássemos? – Sugeriu aproximando-se da água,
querendo levá-la também.
– A água deve estar fria. É melhor não. – Replicou Nívea, recuando.
– Olha, eu vou entrar. – Informou Cláudio deixando os chinelos na areia e despindo a camisa.
Ela baixou a cabeça para não o ver em tronco nu. Ele desafiou-a:
– Não queres ir comigo? – E estendeu-lhe uma mão.
– É melhor ficar aqui. Vai tu. – Concluiu cruzando os braços.
– Prometes que não te vais embora?
– Prometo.
Então ele tirou os calções de ganga e correu para o mar. Nívea ficou a vê-lo e achou-se tonta por estar ali na praia àquelas horas com um rapaz mais novo que o filho.
Pensou em ir embora, mas algo a prendia àquele sítio. Como poderia ser pecado ser feliz?! Estava a ter uma das melhores noites!
Seus encontros foram cada vez mais frequentes e deliciosos. Ele fora para o apartamento dela durante uns dias e tinha a cópia da chave. Mentira à família dizendo que ia para casa duma ex- colega com quem namorava.
– Não gosto nada de esconder coisas à tua mãe. Ela não me vai perdoar de eu andar contigo.
– Ela não tem de te perdoar de nada, estarmos juntos é bom, é justo sentirmo nos bem. – E abraçou-a.
– Mesmo assim não vou arriscar contar a alguém. Como consegues mentir e não sentir remorso?
– Não faço nada de mal. Fazer te feliz é mau? – Sondou, beijando-a em seguida.
– Claro que não. Se pudéssemos contar a todos ia ser tão bom! – Desabafou com ar sonhador.
– Pois era, mas iam todos ficar escandalizados.
– É verdade, o meu pai de certeza que lhe daria um ataque e a minha mãe ia ficar muito desiludida. A tua família nunca mais me falaria, esperam que te cases como a Camila com uma da tua idade e eu sou uma divorciada da idade da tua mãe. – Lamentou com as lágrimas nos olhos.
Ele enxugou-as suplicando:
– Não chores, parte-me o coração. Estás comigo, tens de estar alegre. – E beijou-a com muito carinho para que ela se excitasse e se esquecesse da tristeza.
De vez em quando, Cláudio fazia-lhe surpresas. Já lhe dera um anel prateado que servira para marcar o dia em que o admirador secreto apareceu. Cantava karaoke para ela, assim como ela para ele. Dava-lhe rosas, comprava frutos afrodisíacos, champanhe, espalhava rosas pelo quarto e acendia velas de cores diferentes cada dia. Ela comprara pizza para comerem, de outras vezes galinha e outros alimentos para preparar jantares deliciosos para ambos.
Muitas vezes parecia que o resto do mundo não existia e que eram apenas eles a habitar o planeta, como se o mundo fosse o apartamento.
Uma noite foram a uma discoteca na cidade do Porto juntos. Adoraram parecer um casal à frente das outras pessoas e saírem do seu lugarejo! Mas mantiveram sempre segredo da sua relação para não fazerem sofrer entes queridos.

Lénia Aguiar
2015

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O CINEASTA PORTUGUÊS

Manoel de Oliveira é um cineasta
Afamado em muitos países.
Escrever sobre ele não basta
Para expressar as suas raízes.

Muitos temas presentes
São tratados nas filmagens,
Avanços das mentes
Colados nas imagens.

Seus filmes ele gravou
Para várias multidões,
Muitos prémios ganhou
Com suas realizações.

Chegar aos cem anos de vida
Não lhe mudou a pele,
Ultrapassá-los foi data querida,
Mais uma vitória para ele.

MARÇO 2015