terça-feira, 4 de maio de 2010

Conto - UNHAS DEMASIADO GRANDES

Enquanto ela escrevia sentiu a unha do polegar roçar no papel. Não ligou muita importância, pois costumava ser natural. No entanto, a jornalista, de 27 anos, magra e ruiva, deu-se conta que as outras unhas também cresciam. E quanto mais depressa escrevia mais as unhas se ampliavam. Ficou sem conseguir segurar a caneta e deixou-a cair para espanto dos colegas de redacção. Ela corou, mas não tentou apanhar a caneta; ao invés disso escondeu a mão direita na algibeira do casaco. Levantou-se da cadeira e dirigiu-se à sala do chefe. Porém, ele estava ocupado e não a pôde receber. Nesse momento notou que as unhas da mão esquerda também estavam a crescer. Fechou a mão com força, espetando as unhas na palma da mão começando a sangrar. Desesperada saiu da redacção sem dar satisfações a ninguém. Então notou que não conseguia tirar a mão direita da algibeira, as unhas já tinham crescido tanto que furaram o casaco e ameaçavam mostrar-se daí a pouco.
Ao chegar ao carro não conseguiu abrir a porta, não podia fazer uso da mão direita e a esquerda estava a sangrar e com as unhas também a crescer. Pontapeou a porta do carro e murmurou algo incompreensível.
As unhas da mão direita já se aproximavam do joelho dela e as pessoas do parque de estacionamento começaram a fugir com medo de serem atacadas.
A jornalista começou a chorar. As unhas da mão esquerda estavam a aproximar-se, em tamanho, das da outra mão e ela já não sabia o que fazer. Gritou por socorro. Contudo, ninguém ousava cercar-se dela. As unhas estavam tão grandes que ela já parecia um monstro. Agora era impossível vir a casar!
Finalmente as unhas alcançaram o chão. Nesse instante ela pensou que talvez o crescimento cessasse, mas não foi isso que aconteceu: as da mão direita furaram o chão e as da esquerda cresciam mais.
Ela não se deu conta que as unhas da mão direita ficavam presas no chão e não se partiam, não ousou em baixar o braço esquerdo.
Nessa altura a polícia já estava presente, assim como os bombeiros e a ambulância. Também chamaram um lavrador para trazer uma enchada e cavar as unhas que estavam enterradas no cimento do parque de estacionamento, pois elas eram muito resistentes e não era qualquer coisa que as derrubava.
As unhas não cederam à enchada e a jornalista começou a levantar os pés do chão. Para se apoiar melhor baixou o braço esquerdo e toda a cidade estremeceu. Houve gritaria e muita gente a correr dum lado para o outro. Ninguém sabia o que fazer para que as unhas da mulher voltassem ao normal.
De súbito, um homem cego disso para um polícia:
- Se o cenário é assim tão feio, mais vale pedir a ela que lhe coloque as unhas nos olhos.
Por entre a multidão apareceu uma mulher que retirou da mala um frasquinho de verniz e gritou para a jornalista:
- Não se mova que eu vou pintar um pouco desta unha. - A mulher assim fez e a unha começou a diminuir e os estragos que havia feito desapareceram.
Todos ao redor ficaram estupefactos!
Um perguntou:
- Esta mulher quem será?
Outro supôs:
- Alguma mulher divina que andava na Terra e ninguém sabia.
Depois tudo voltou à normalidade e a jornalista acabou por encontrar namorado e se casar, tendo tido mais sucesso na carreira.

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