terça-feira, 4 de maio de 2010

Conto - O EMPRESÁRIO E A MANSÃO

Um empresário de sucesso estava sentado na poltrona que havia no seu escritório e depois de se servir dum whisky começou a resmungar consigo mesmo:
- Parece que mais uma vez estou como a minha mansão... Tenho a melhor vestimenta de todos os tempos, o mais bem apresentado aspecto, posso ter o privilégio de me dar aos luxos, sou convidado para as melhores festas e eventos, tal como tu, minha casa... - e sorriu - és sempre apreciada por gente importante quando eu dou festas e ficas cheia de glamour. - Levantou-se da poltrona e abriu a porta, passando para outro quarto, continuando a falar - Tal como tu, tenho à minha disposição muitos empregados e quartos bastante amplos, arejados e limpos. - Nisto olhou à volta da sala cheia de mobílias caras, quadros de pintores famosos nas paredes, lustres muito ornamentados, sofás dum cabedal raro, vasos de flores artificiais que pareciam verídicas; deu meia volta e subiu a enorme escadaria de mármore que dava acesso até aos quartos. Abriu a porta de um dos quartos de hóspedes e havia lá uma empregada a abrir as janelas e a porta de vidro que dava passagem até a uma pequena varanda.
A moça assim que o viu saiu logo, para que não perturbasse o patrão. O empresário dirigiu-se até à varanda observando a bela paisagem que havia lá em baixo. - Ambos temos uns jardins radiosos onde cintilam as estrelas e o sol, assim como onde pousam alguns pássaros e pequenas gostas de chuva.
- Nós somos grandes em tudo! O que nos rodeia mostra-nos bem quem somos... Pertencemos à alta sociedade e temos que nos orgulhar disso. - Voltou a sorrir. Porém, seu sorriso desfaleceu ao olhar para o céu e deparando-se com nuvens carregadas. - Parece que o tempo está a mudar. - Proferiu voltando para dentro, fechando a porta, com uma tristeza no olhar - Os dias em que o céu se fecha não me agradam. Não sei o que achas, minha mansão, mas talvez também sejas da minha opinião.
A empregada entrou para fechar as janelas. Pediu licença e foi fazer o seu trabalho; saindo logo depois sem dizer mais nada.
- Será que compensa ser o patrão se os empregados parecem nos temer? Será que não percebem que eu sou um humano também? Às vezes o respeito não é muito benéfico, faz-nos frios... Sentes-te assim? - Perguntou retoricamente ao sair do quarto e pisar no largo e comprido corredor. - Talvez te sintas assim nos dias de Inverno em que o sol não te aquece as faces.
Andou até ao fundo do corredor e penetrou no seu quarto espaçoso e bem arrumado.
Apoiou-se à cómoda e olhou para a sua imagem reflectida no espelho e sentiu-se triste dizendo:
- Sempre fui tu e tu eu, apenas uma imagem da alta sociedade com boa aparência. - E arrancou o espelho da parede atirando-o ao chão, acrescentando - Tal como tu, por dentro, não há nada, a não ser o vazio de um vidro partido.
Então os empregados acudiram ao estrondo e o empresário sentou-se numa cadeira a olhar para o chão com um olhar indecifrável.


MORAL:
- Podemos ter todos os bens materiais, mas se tivermos a falta de amor não temos nada.

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